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O fenômeno BTS e as influências por trás de Map Of The Soul: Persona

Formado por Jin (visual e vocalista), Suga (rapper), J-Hope (dançarino principal e rapper guia), RM (líder e rapper principal), Jimin (vocalista líder e dançarino), V (face e vocalista do grupo) e Jungkook (maknae e vocal principal), o grupo BTS está na estrada desde 2013. O septeto trabalha sob a batuta da Big Hit Entertainment, gravadora sul-coreana especializada em K-pop.

O mundo pop vive a era da BTSmanina

BTS conseguiu superar feito dos Beatles (Foto/Divulgação)

Na era em que o termo “mito” é usado de forma desvirtuada, o BTS já chegou corrigindo o erro de percurso. Para começar, estamos falando da primeira banda desde os Beatles a colocar três álbuns no topo da lista da Billboard, um dos veículos mais bem conceituados sobre cultura pop em geral, em menos de um ano. Em 2018, o septeto foi o segundo grupo mais reproduzido no Spotify, ultrapassando astros do naipe de Maroon 5, Coldplay e Ed Sheeran, de acordo com dados de dezembro. A primeira colocação ficou com o Imagine Dragons.

A importância do grupo, no entanto, não pode ser explicada somente sob a ótica da frieza dos dados estatísticos. Como poucos artistas da nova geração da música em geral, os rapazes sul-coreanos conseguem fazer a perfeita conexão entre música e alma.

Quer saber mais sobre os pontos que fazem do fenômeno chamado BTS um grupo realmente diferenciado? Continue lendo e conheça essa história inspiradora.

Um discurso diferenciado

Conforme pontuou a revista Rolling Stone, a música dos pop stars e as questões políticas não andam lado a lado na Coreia do Sul. No geral, muitos grupos preferem descansar na zona de conforto das fórmulas apolíticas.

Por sua vez, o BTS é um ponto fora dessa curva. Ao longo de seus seis anos de carreira, o septeto fala o que pensa e discute abertamente temas como, por exemplo, os direitos LGBTQ, a saúde mental e a pressão para o sucesso. Com postura ousada, a banda usa de sua arte para tratar de assuntos que são tabu aos olhos das camadas mais conservadoras do governo sul-coreano.

Seguindo a proposta de transpor a linha tênue que há entre manter uma imagem respeitável e escrever letras críticas, o BTS representa um sopro de inovação que não é unanimidade entre os críticos musicais. Mas como não querem “jogar pra torcida”, os sete rapazes representam a “Consciência Social do K-pop”, como bem definiu o jornalista Jeff Benjamin, da revista Billboard, que escreveu que o grupo encontrou “uma maneira de falar honestamente sobre tópicos que consideram importantes, mesmo em uma sociedade conservadora”.

Fantoche da indústria? Nem pensar!

Quando assina com um artista, independente do segmento, a gravadora costuma tomar as rédeas da situação e assumir controle total da situação. Geralmente, “a poderosa ‘chefona'” define repertório, arranjos e direcionamentos artísticos. No caso da relação entre BTS e Big Hit Entertainment, a situação é um tanto quanto diferente.

BTS é fenômeno mundial da música pop

Grupo sempre teve autonomia sobre o próprio trabalho (Foto/Divulgação)

Para começar, os jovens estabeleceram o conceito artístico em torno do grupo, que assume desde uma imagem difícil, a figura do “bad boy”, até uma imagem mais jovem, influenciada principalmente pelo hip-hop e R&B. No que diz respeito à sonoridade, o grupo transita com desenvoltura entre as batidas do hip-hop, o balanço do R&B e os clássicos elementos do pop rock.

De acordo com a revista Billboard, o BTS é um dos principais produtores de música competitiva do K-pop de hoje. Além da parte vocal e performática da coisa, os integrantes participam dos processos de composições e produções das músicas. Por sua vez, os especialistas do jornal Daily Dot entendem que o grupo estabeleceu um padrão a ser seguida pelas bandas das próximas gerações. “Suas almas estão em suas performances porque eles ajudaram a criá-las – um investimento que faz toda a diferença entre memorizar rotinas de dança e abraçá-las com paixão”, sentenciou a publicação.

BTS encontra Carl Jung

Em algum momento de sua brilhante carreira, o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875 – 1931) desenvolveu os fundamentos da psicologia analítica. De maneira resumida, entende-se que Jung propôs e moldou os conceitos de personalidades introvertidas e extrovertidas, e aprofundou o do poder do inconsciente.

Novo disco do BTS, Map of The Soul: Persona, tem fortes laços com a psicologia

No disco Map of The Soul: Persona, BTS discute fundamentos da psicologia (Foto/Divulgação)

Do alto de sua sabedoria, o escritor americano Murray Stein, que também é doutor em religião e estudos psicológicos, agrupou os 18 volumes das teorias de Jung em um livro que é hoje reconhecido como uma das melhores introduções aos conceitos da psicologia analítica. Trata-se da obra Jung’s Map of the Soul [Jung: O Mapa da Alma, em tradução livre], que já foi traduzida para dezenas de línguas, incluindo o português.

Assim como um dia o livro Universo em Desencanto parou nas mãos de Tim Maia, Jung’s Map of the Soul chegou nos integrantes do BTS. Do mesmo jeito que os mandamentos da Cultura Racional foram incorporados à discografia do rei do soul brasileiro, a sabedoria do Dr. Stein inspirou um álbum do grupo de K-pop. Sim, amigo leitor! Estamos falando do disco Map of The Soul: Persona.

Persona mapeia a alma

Ao longo de sua discografia, o BTS prioriza letras que abordam temas como bullying, a busca da felicidade, e a rejeição aos padrões e ideais impostos pela sociedade. No álbum Map of The Soul: Persona, o sexto da carreira, os jovens dão uma guinada introspectiva e dão um tom ainda mais profundo às questões que envolvem saúde mental.

Map of The Soul: Persona é um disco que divide águas no pop mundial

Map of The Soul: Persona já está entre os melhores álbuns da década (Foto/Divulgação)

Ao longo das sete músicas do disco, o septeto lida com conceitos junguianos de psique, ego e inconsciente coletivo – com ênfase na ideia de persona. Em conversa com a BBC, o Dr. Stein explica que “persona é a palavra em latim para as máscaras que os atores usam no palco – e todos nós colocamos máscaras, de certa forma, quando estamos em público”.

Faz parte do que é ser um animal social: nossa necessidade de se dar bem com outras pessoas, de ser educado, de ser parte de um grupo, diz Stein.

Em culturas asiáticas, de onde vem o BTS, a questão da persona é de fundamental importância para os indivíduos, conforme teoriza Dr. Stein. Consequentemente, as músicas do álbum validam, ainda mais, os argumentos de Stein.

A busca pelo “verdadeiro eu”

Na faixa de abertura, RM reflete sobre como os elogios à sua persona no palco o impedem de lidar com suas falhas humanas e encontrar o seu “verdadeiro eu”. “Quem sou eu? É a questão que enfrentei minha vida toda / Provavelmente, nunca encontrarei a resposta”, filosofa o artista.

No clipe, RM encara uma versão gigante de si mesmo, ilustrando sua persona narcisista; e canta em um quarto cheio de espelhos, cada um refletindo um aspecto reprimido de sua personalidade.

E a busca pelo verdadeiro eu não para por aí! Em tons dramáticos, a canção Jamais Vu analisa a tendência de repetir os mesmos erros. “Continuo me machucando por causa dos erros que repito 50 mil vezes/ Minhas letras de músicas, minha linguagem corporal/Todas as minhas palavras têm medo do que nunca vi”, diz um trecho da letra. Além do mais, o famoso “Quem sou eu?” novamente é citado como um questionamento feito a vida inteira.

BTS é um septeto ícone do K-pop

Repertório do BTS é um um oceano de questões existenciais (Foto/Divulgação)

Com direito a participação do pop star Ed Sheeran, a romântica balada em hip-hop Make It Right aborda a questão dos relacionamentos. Em vários versos a letra destaca as personas ególatra e olimpiana do artista. “Eu me tornei um herói neste mundo/Uma salva de palmas para mim/ E em minhas mãos, um troféu e um microfone de ouro”.

De maneira singela, a letra de Mikrokosmos fala sobre encontrar autoestima. Trata-se de um guia para reconhecimento da luz própria e prática da autoaceitação. Por sua vez, HOME é uma canção que reflete sobre fidelidade e gratidão para com os fãs. Fazendo jus ao título Dionysus (Dionísio – deus da mitologia grega associado ao vinho e às festas) aborda temas como hedonismo, esbórnia, criação e dor, ou seja, a música lida com fundamentos comuns às várias personas artísticas.

Um hino chamado Boy With Luv

Imortalizando um feat. do BTS com a pop star americana Halsey, a faixa Boy With Luv está ligada ao passado do grupo. Segundo o site Bagtan, “o título em inglês é uma referência à faixa de 2014, Boy In Luv, enquanto o título coreano é traduzido como ‘um poema para as pequenas coisas'”.

BTS e Halsey brilham no clipe de Boy With Luv

Halsey e BTS fazem o feat. que a gente mais respeita (Foto/Divulgação)

A humanidade na mensagem da letra é clara: a felicidade e o verdadeiro amor estão nas pequenas coisas da vida. Com esse discurso focado na simplicidade, Boy With Luv já nasceu sendo um dos capítulos mais vitoriosos da história da música pop. Sinônimo de sucesso, a música lidera audiência em plataformas de streaming, paradas de sucesso e pistas de dança.

Por sua vez, o clipe é cheio de cores, estilos e referências em obras do cinema, como La La Land e Singin’ In The Rain. De acordo com registros do YouTube, o vídeo ultrapassou a marca de 74.6 milhões de visualizações nas primeiras 24 horas, batendo os recordes do Guinness Book World Records em:

  • Vídeo mais assistido em 24 horas;
  • Videoclipe de música mais assistido em 24 horas;
  • Videoclipe de música de um grupo de K-pop mais assistido em 24 horas.

Ainda não viu essa pérola videoclíptica? Não perca tempo: dê o play e confira a magia!

E você tá sabendo que o BTS vem ao Brasil, né? O septeto subirá ao palco do Allianz Parque, em São Paulo, nos dias 25 e 26 de maio. Os ingressos foram todos vendidos em questão de poucas horas. Enquanto os rapazes não chegam por aqui, que tal ouvir a discografia inteira deles?

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Gustavo Morais

Jornalista, com especialização em Produção e Crítica Cultural. Pesquisador independente de música, colecionador de discos de vinil e mídias físicas. Toca guitarra, violão, baixo e teclado. Trabalha no Cifra Club desde novembro de 2006.

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