Ela tomou o café
Leu o jornal
Nessa manhã
Ela fez tudo igual
Abriu o portão
Olhou para o céu
Retornou, pegou o chapéu
“Parece que vai chover”
Quando viu chegar o trem na estação
Fechou seu livro
Deu play numa canção
E assim se espremeu dentro do vagão
Estação após estação
Sibilava os refrões dos fones
Entre as multidões
Da sua mesa
Ela viu a chuva chegar
Tinha projetos
Croquis pra terminar
E o seu dia cinza assim transcorreu
Desenhou, cortou, escreveu
Pra tudo sair do papel
E outra vez olhou pro céu
Chovia ralo
Chega de trabalho!
Do oitavo andar desceu
O seu guarda-chuva mal lhe protegia
Xingou quem lhe vendeu
Caminhou, depois correu da chuva
Que apertava a cada passo seu
Esmagada outra vez
Na composição Santa Cruz
O céu descortinou parcas matizes azuis
A chuva refreou
Como assim sempre faz
Um botão de random
Trocando dias iguais
(Tão complexa a memória
Reestrutura, reelabora os sentimentos
Seleciona, faz-lhe um sonho
Pra que ela pense
Amanhã
Logo assim que acordar
Que estará noutro dia)